Ahhh o amor...
Já algum tempo eu venho pensando sobre o tema, amor. E também procurando perceber em todas as fases da minha vida as diferentes formas e expressões de amor. O que me deixa um pouco triste, e também preocupada é perceber que muitas vezes nas relações, principalmente conjugais, o amor está um pouco adormecido.
Quando digo adormecido, quero dizer que ele está presente, mas apenas não manifestado. O carinho, o afeto estão lá, mas a densidade de sentimentos como o ciúmes, a possessividade, insegurança trazem um peso tão grande que até o mais nobre dos sentimentos não tem força suficiente para ser despertado.
Hoje uma amiga muito querida, infelizmente terminou uma relação de quase dois anos, e me disse a seguinte frase: "Preciso encontrar um homem com alma feminina. Ou irei me abster das relações. Estou cansada do ciumes doentio e possessividade, além das grosserias verbais e de atitudes machistas."
Mas o que seria esta alma feminina que ela se refere. E porque apenas feminina. O homem em sua essência não pode manifestar docilidade e sensibilidade. Tenho o orgulho de dizer que tenho alguns amigos que realmente parecem ser mais sensíveis, e não só amigos, mas consigo reconhecer esta delicadeza em muitos outros seres.
O amor, prema, é um sentimento muito maior do que o elo que é criado entre duas pessoas. O amor puro e verdadeiro talvez não possa nascer entre seres humanos, e sim desenvolvido apenas entre os seres superiores que são perfeitos em sua forma e concepção.
Isso porque quem ama não é o corpo, é a alma. A alma é Sat Chit Ananda, consciência pura. Ela sim consegue gerar este amor puro. Mas como acessar esta alma vivendo em uma sociedade como a nossa. É possível agir a partir da nossa essência e fomentar o amor pela alma das outras pessoas? Existe tal pureza entre os mortais? Não passamos a vida tentando nos esconder atrás de tantos véus?
É nadar contra a maré?
Amar é apodera-se do outro? Que sentimento é este que foi nos ensinado que para provar que existe amor, é preciso exercer algum poder regulador sobre o outro? O respeito deveria ser imposto desta forma?
Uma ótima referência para este tema vem do conhecimento primordial do amor, e ninguém melhor para tratar deste assunto que o Bhakti-Yoga, o amor devocional. A diferenciação entre o mundo material e o mundo espiritual, pode explicar muito bem o porque destes apegos. Se estamos agindo no modo da ignorância, as ações são impensadas, queremos apenas satisfazer os desejos mais grosseiros do nosso ego. Grosseiros no sentido de rudimentares, densificados. A medida que vamos avançando, estudando e praticando os aspectos práticos desta filosofia, temos a oportunidade de ver as coisas com outros olhos. E de alguma forma elevando nosso sentimento e o que geramos nas outras pessoas. Se o corpo assim já não tem tanta importância, porque que eu iria me achar dono de alguém? Se o meu próprio corpo também não me pertence. É muito estranho e mesmo aterrorizante pensar desta forma, mas não seria muito mais simples se a gente conseguisse entender que o amor não prende, que o amor liberta. Porque a maioria das pessoas ainda não compreendeu isso?
Sendo homens ou mulheres, é essencial que a gente busque o desenvolvimento pessoal, e vejo que cada vez mais, as relações, de alguma forma funcionam melhor se existe esta conexão. Se ambos estão buscando crescer como indivíduos, e não apenas olhando no seu próprio umbigo e satisfazendo este ego imperfeito.
A pratica do Yoga ajuda muito, e não porque é bonito, ou porque está na moda fazer Yoga, e porque quereremos ficar com o corpo igual o da Madonna (que até era bonito.. mas hoje tenho minhas dúvidas) nós precisamos praticar Yoga porque queremos tornar o nosso mundo melhor, nem que seja apenas dentro do bairro onde a gente vive, ou no ambiente no qual estamos socialmente inseridos. Precisamos buscar um lugar mais harmônico e mais leve para se viver. O Yoga melhora as nossas relações!
Se a gente vai salvar o mundo, realmente eu não sei. Mas precisamos fazer a nossa parte! É como aquela velha metáfora do incêndio na floresta, onde todos os animais se mobilizaram para apagar aquele fogo imenso, e o elefante que jorrava litros de água com sua tromba nas labaredas, olha para o pequeno passarinho e diz: Vem cá seu passarinho, você acha que apenas com esta gotinha de água que você pode carregar, és capaz de apagar estas chamas imensas. E o passarinho sabiamente responde: Apagar eu não sei, mas estou fazendo a minha parte!
Então sejamos passarinhos nesta floresta em chamas. Vamos buscar uma forma de sentir mais amor pelas pessoas, e deixar um pouco de lado aquilo que só nos satisfaz, ou ao nosso ego, a nossa vontade de sermos aceitos. Vamos tentar amar sem pedir nada em troca. E nas relações conjugais, que possamos ter a sorte de encontrar parceiros com esta “alma feminina” que ao meu ver nada mais é que uma pessoa com uma certa dose de sensibilidade e segurança de quem ser quem se é!
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!"
Mario Quintana